Questões de Português para Vestibular

cód. #162

FUVEST - Português - 2021 - Vestibular

Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: "Então, por que você quer saber, se já sabe?" Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?". Repetia. E, diante da sua insistência bovina, tive de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.

Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.

Sem prejuízo de sentido e fazendo as adaptações necessárias, é possível substituir as expressões em destaque no texto, respectivamente, por

A) incompreensão; armação; inofensivo; irredutível.

B) altivez; brincadeira; ofendido; mansa.

C) ignorância; mentira; prejudicado; alienada.

D) complacência; invenção; bobo; cega.

E) arrogância; entretenimento; incapaz; animalesca.

A B C D E

cód. #161

FUVEST - Português - 2021 - Vestibular

Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: "Então, por que você quer saber, se já sabe?" Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?". Repetia. E, diante da sua insistência bovina, tive de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.

Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.

As respostas do narrador às perguntas de Leusipo são uma tentativa de disfarçar o caráter

A) fabular do romance, inspirado nas lendas e tradições dos Krahô.

B) investigativo do romance, embasado em testemunhos dos Krahô.

C) político do romance, a respeito das condições de vida dos Krahô.

D) etnográfico do romance, através do registro da cultura dos Krahô.

E) biográfico do romance, relatando sua vivência junto aos Krahô.

A B C D E

cód. #160

FUVEST - Português - 2021 - Vestibular

Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: "Então, por que você quer saber, se já sabe?" Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?". Repetia. E, diante da sua insistência bovina, tive de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.

Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.

Na cena apresentada, que explora o desconforto gerado pela difícil interlocução com o indígena, o narrador

A) abandona a ideia de investigar o passado, ao se ver encurralado por Leusipo.

B) explora a sua posição ameaçadora de homem branco, ao insistir em permanecer na aldeia.

C) age com ousadia, ao procurar subjugar Leusipo a contribuir com o seu projeto.

D) identifica-se com a sabedoria de Leusipo, ao preterir do papel interrogativo e se deixar questionar.

E) sente-se frustrado com a reação de Leusipo, que não se deixa levar por sua diplomacia.

A B C D E

cód. #159

FUVEST - Português - 2021 - Vestibular

Rubião fitava a enseada, - eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas em verdade vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora! Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.

- Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...

Machado de Assis, Quincas Borba.


O primeiro capítulo de Quincas Borba já apresenta ao leitor um elemento que será fundamental na construção do romance:

A) a contemplação das paisagens naturais, como se lê em "ele admirava aquele pedaço de água quieta".

B) a presença de um narrador-personagem, como se lê em "em verdade vos digo que pensava em outra coisa".

C) a sobriedade do protagonista ao avaliar o seu percurso, como se lê em "Cotejava o passado com o presente".

D) o sentido místico e fatalista que rege os destinos, como se lê em "Deus escreve direito por linhas tortas".

E) a reversibilidade entre o cômico e o trágico, como se lê em "de modo que o que parecia uma desgraça...".

A B C D E

cód. #158

FUVEST - Português - 2021 - Vestibular

Remissão


Tua memória, pasto de poesia,

tua poesia, pasto dos vulgares,

vão se engastando numa coisa fria

a que tu chamas: vida, e seus pesares.


Mas, pesares de quê? perguntaria,

se esse travo de angústia nos cantares,

se o que dorme na base da elegia

vai correndo e secando pelos ares,


e nada resta, mesmo, do que escreves

e te forçou ao exílio das palavras,

senão contentamento de escrever,


enquanto o tempo, e suas formas breves

ou longas, que sutil interpretavas,

se evapora no fundo do teu ser?

Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.


Claro enigma apresenta, por meio do lirismo reflexivo, o posicionamento do escritor perante a sua condição no mundo. Considerando-o como representativo desse seu aspecto, o poema "Remissão"

A) traduz a melancolia e o recolhimento do eu lírico em face da sensação de incomunicabilidade com uma realidade indiferente à sua poesia.

B) revela uma perspectiva inconformada, mesclando-a, livre da indulgência dos anos anteriores, a um novo formalismo estético.

C) propõe, como reação do poeta à vulgaridade do mundo, uma poética capaz de interferir na realidade pelo viés nostálgico.

D) reflete a visão idealizada do trabalho do poeta e a consciência da perenidade da poesia, resistente à passagem do tempo.

E) realiza a transição do lirismo social para o lirismo metafísico, caracterizado pela adesão ao conforto espiritual e ao escapismo imaginativo.

A B C D E

cód. #157

FUVEST - Português - 2021 - Vestibular


O efeito de humor presente nas falas das personagens decorre

A) da quebra de expectativa gerada pela polissemia.

B) da ambiguidade causada pela antonímia.

C) do contraste provocado pela fonética.

D) do contraste introduzido pela neologia.

E) do estranhamento devido à morfologia.

A B C D E

cód. #156

FUVEST - Português - 2021 - Vestibular

Psicanálise do açúcar


O açúcar cristal, ou açúcar de usina,

mostra a mais instável das brancuras:

quem do Recife sabe direito o quanto,

e o pouco desse quanto, que ela dura.

Sabe o mínimo do pouco que o cristal

se estabiliza cristal sobre o açúcar,

por cima do fundo antigo, de mascavo,

do mascavo barrento que se incuba;

e sabe que tudo pode romper o mínimo

em que o cristal é capaz de censura:

pois o tal fundo mascavo logo aflora

quer inverno ou verão mele o açúcar.


Só os banguês* que-ainda purgam ainda

o açúcar bruto com barro, de mistura;

a usina já não o purga: da infância,

não de depois de adulto, ela o educa;

em enfermarias, com vácuos e turbinas,

em mãos de metal de gente indústria,

a usina o leva a sublimar em cristal

o pardo do xarope: não o purga, cura.

Mas como a cana se cria ainda hoje,

em mãos de barro de gente agricultura,

o barrento da pré-infância logo aflora

quer inverno ou verão mele o açúcar.

João Cabral de Melo Neto, A Educação pela Pedra.


*banguê: engenho de açúcar primitivo movido a força animal. 

Os últimos quatro versos do poema rompem com a série de contrapontos entre a usina e o banguê, pois

A) negam haver diferença química entre o açúcar cristal e o açúcar mascavo.

B) esclarecem que a aparência do açúcar varia com a espécie de cana cultivada.

C) revelam que na base de toda empresa açucareira está o trabalhador rural.

D) denunciam a exploração do trabalho infantil nos canaviais nordestinos.

E) explicam que a estação do ano define em qualquer processo o tipo de açúcar.

A B C D E

cód. #155

FUVEST - Português - 2021 - Vestibular

Psicanálise do açúcar


O açúcar cristal, ou açúcar de usina,

mostra a mais instável das brancuras:

quem do Recife sabe direito o quanto,

e o pouco desse quanto, que ela dura.

Sabe o mínimo do pouco que o cristal

se estabiliza cristal sobre o açúcar,

por cima do fundo antigo, de mascavo,

do mascavo barrento que se incuba;

e sabe que tudo pode romper o mínimo

em que o cristal é capaz de censura:

pois o tal fundo mascavo logo aflora

quer inverno ou verão mele o açúcar.


Só os banguês* que-ainda purgam ainda

o açúcar bruto com barro, de mistura;

a usina já não o purga: da infância,

não de depois de adulto, ela o educa;

em enfermarias, com vácuos e turbinas,

em mãos de metal de gente indústria,

a usina o leva a sublimar em cristal

o pardo do xarope: não o purga, cura.

Mas como a cana se cria ainda hoje,

em mãos de barro de gente agricultura,

o barrento da pré-infância logo aflora

quer inverno ou verão mele o açúcar.

João Cabral de Melo Neto, A Educação pela Pedra.


*banguê: engenho de açúcar primitivo movido a força animal. 

Na oração "que ela dura" (v. 4), o pronome sublinhado

A) não tem referente.

B) retoma a palavra "usina" (v. 1).

C) pode ser substituído por "ele", referindo-se a "açúcar" (v. 1).

D) refere-se à "mais instável das brancuras" (v. 2).

E) equivale à palavra "censura" (v. 10).

A B C D E

cód. #143

COMVEST - UNICAMP - Português - 2021 - Vestibular - Primeira Fase - Provas Q e Z - Biológicas e Saúde

GÊNESIS (INTRO)

Deus fez o mar, as árvore, as criança, o amor

O homem me deu a favela, o crack, a trairagem

As arma, as bebida, as puta

Eu?

Eu tenho uma Bíblia velha, uma pistola automática

Um sentimento de revolta

Eu tô tentando sobreviver no inferno


(Racionais Mc’s, Sobrevivendo no inferno. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 45.)


“Gênesis” é a segunda canção do álbum Sobrevivendo no Inferno. É antecedida pela invocação de uma outra canção, intitulada “Jorge da Capadócia”, de Jorge Ben.

É correto afirmar que as evocações dos elementos religiosos nesse álbum

A) legitimam a violência social a que estão submetidos os pobres.

B) dificultam a tomada de consciência da população negra.

C) articulam as esferas ética e estética da experiência humana na poesia.

D) dissimulam a hipocrisia moral das pessoas religiosas.

A B C D E

cód. #141

COMVEST - UNICAMP - Português - 2021 - Vestibular - Primeira Fase - Provas Q e Z - Biológicas e Saúde

Leia o poema e responda à questão que se segue.
A fermosura desta fresca serra e a sombra dos verdes castanheiros, o manso caminhar destes ribeiros, donde toda a tristeza se desterra;
o rouco som do mar, a estranha terra, o esconder do Sol pelos outeiros, o recolher dos gados derradeiros, das nuvens pelo ar a branda guerra;
enfim, tudo o que a rara natureza com tanta variedade nos oferece, se está, se não te vejo, magoando.
Sem ti, tudo me enoja e me aborrece; sem ti, perpetuamente estou passando, nas mores alegrias, mor tristeza.
É correto afirmar que, no soneto de Camões,

A) a beleza natural aborrece o eu lírico, uma vez que se transforma em objeto de suas maiores tristezas.

B) a variedade da paisagem está em harmonia com o sentimento do eu lírico porque a relação amorosa é imperfeita.

C) a harmonia da natureza consola o eu lírico das imperfeições da vida e da ausência da pessoa amada.

D) a singularidade da natureza entristece o eu lírico quando ele está distante da pessoa amada.

A B C D E

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